Autor: Prof.
Fabrício Ap. Zafalon
Em meio a um
debate ácido sobre divulgação de dados ambientais pelo INPE (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), órgão federal, de alta tecnologia, com cientistas capacitados
e responsáveis, que revelam um aumento de 88% do desmatamento na Amazônia em
junho, comparado ao mesmo período do ano anterior. Não vou defender esta ou
aquela bandeira, ou reforçar diálogos polarizados. O foco das reflexões que me
vem à mente, estão na busca pela causa motriz, aquela propriamente humana, a
qual todos nós estamos inseridos, ou seja, nossa visão de distanciamento da
Natureza.
Somos seres
naturais, próprios deste planeta azul chamado Terra, que vista da Lua a 50 anos
atrás reafirmava em nosso imaginário as dádivas e belezas que desfrutamos de
forma bruta e degradante. Sabemos que o problema não é quem derruba a floresta,
mas quem paga pelo fato, quase todos nós. É um pensamento de pouca lucidez crer
que voltaremos às condições de 1000 anos atrás na recomposição de florestas,
rios e solos hoje degradados, pois somos 7,5 bilhões, produzindo, construindo,
transformando, utilizando, destruindo, replantando, cuidando, agindo sobre o
meio como sempre fizemos, só que em um volume cada vez maior, seja pelas
necessidades básicas ou supérfluas, que foram potencializadas pelas máquinas
que criamos. Outro fator que pesa muito para nossas escolhas equivocadas que
impactam os biomas, estão na nossa desnaturalização, isto é, somos seres
racionais, diferente dos demais, porém ainda pertencentes ao reino dos animais
na Biologia, mas no senso comum a interpretação é outra. Parece-nos escapar aí
a ponta da causa de todo este dano ambiental indiscriminado. Pois, só quem não
tem pertencimento, age como um agente externo, que nada sente e interpreta dos
sinais já apontados pela mãe de todos.
A natureza não
é só a Amazônia, os grandes mamíferos da África ou a barreira de corais na
Austrália. A natureza também é o bem-te-vi que faz ninho no poste na frente da
sua casa, o ipê que embeleza o seu dia na estrada, a pequena lagartixa que se
esgueira pelo muro, a grama que cresce no terreno baldio e você que lê este
texto, pois seus olhos têm células sensíveis a luz... É difícil de acreditar,
mas somos naturais. Tão naturais que nascemos, crescemos e morremos como os
demais animais. Mas o que fazemos entre nascer e morrer chama-se cultura,
passível de mudança pelo reconhecimento e entendimento dos erros e acertos.
Entendo-me como um animal que vê seu habitat
ser degradado, pior ainda, pois sou eu um dos que degradam, que produz esgoto,
consumo de recursos minerais e energéticos que me dão conforto ao passo que
retira da natureza transformando-a em produtos. Parece um beco sem saída, mas
não é. Chegamos à lua a 50 anos, mas não conseguimos conversar e resolver
problemas coletivos básicos. Será que a nossa racionalidade que nos distancia
dos animais não tem competência para reciclar embalagens; reduzir o consumismo;
não jogar um papel de bala na calçada? Que fazemos da nossa natureza urbana?
São questionamentos reflexivos, aparentemente superficiais, mas que revelam os
pormenores, detalhes que se tornaram banais, porém fundamentais para uma
mudança de postura ambiental/cultural. Difícil? Muito! Impossível? Nunca!
Encaremos
nossos desafios ambientais urbanos cotidianos, buscando a ação efetiva e
coletiva para vencermos a inércia do distanciamento de nossa origem natural. A
natureza não é um modismo, assim como o ambientalismo não é um partido
político. Unamos os conhecimentos para a evolução benéfica de toda a esfera
terrestre.
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